Em um mundo onde todos buscam reinventar-se para lidar com o ambiente imprevisível que o contexto pós COVID nos reserva, nada melhor que conhecermos a história de Madame Barbe-Nicole Clicquot, aquela senhora simpática que estampa os rótulos de um dos champanhes mais apreciados no mundo, a Veuve (viúva) Clicquot.
Jovem, aos 27 anos ela teve de assumir a gestão da vinícola da família na região de Champagne após o falecimento do seu marido. Em um ambiente onde era esperado que as mulheres tomassem conta da casa e dos filhos, ela decide continuar o projeto idealizado junto com seu falecido marido de produzir champanhe.
E se o desafio de vencer a cultura machista reinante na Europa do sec. XIX já era imenso, imagine o de recuperar uma operação com problemas financeiros, no meio de uma das guerras conduzidas por Napoleão, com intensos problemas logísticos a resolver e sem experiência empresarial anterior. Além disso, Champagne é a região onde grande parte das batalhas ocorreram no solo europeu, tornando o saque e roubo de vinhos uma constante por parte dos exércitos invasores.
Barbe-Nicole Clicquot, talvez motivada pela necessidade de criar sua filha, e sobreviver em um ambiente extremante incerto, adotou uma simples estratégia: agir sobre aquilo que tinha algum controle, aprender rapidamente, ser flexível para aproveitar as poucas e arriscadas oportunidades que se apresentavam. Mas, principalmente, ela tinha a ambição, e o desejo de criar uma Marca única, que representasse seus ideais e valores, assim como fosse reconhecida em toda a França.
No meio desta crise ela se cercou de pessoas preparadas, promoveu inovações no processo de produção de champanhes (rémuage), aprimorou a qualidade dos produtos, buscou novos segmentos de clientes e mercados onde o seu produto fosse apreciado (Rússia) e estabeleceu um sistema logístico que pudesse transportar seu produto para países inimigos da França napoleônica.
Intuição, inovações, gestão de riscos, eficiência e compreensão dos desejos de clientes e mercados são as competências que Barbe-Nicole Clicquot utilizou ao longo de uma guerra para posicionar sua Marca como uma das mais prestigiadas e principais produtoras de champanhe do mundo, competindo com marcas já estabelecidas como a Chandon.
Atualmente este tipo de contexto, onde um amplo conjunto de fatores se interpõem, e nossa capacidade de prever ou controlar situações é muito baixa, é conhecido pelo acrônimo VUCA que representa a volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade do cenário. Ele foi desenvolvido pelo Pentágono pós queda do muro de Berlim (1989) para caracterizar um mundo distópico que seus estudos de cenários apontavam para o futuro da humanidade.
Hoje o nosso desafio é o de lidar com uma crise global de saúde com impactos em todos os setores de nossas vidas (econômico, social, político etc.). Neste sentido as lições de liderança e empreendedorismo de Barbe-Nicole Clicquot nunca foram tão atuais para atuarmos diante da complexidade do contexto.
Gerenciar emoções, buscar inovações, trabalhar em equipe, repensar o modelo operacional e adotar um modelo mental de agilidade e flexibilidade são essenciais para surfarmos neste novo contexto.
Eduardo Hiroshi